segunda-feira, 26 de maio de 2008

Shashamane

A Comunidade rastafari de Shashamane, na província de Shoa, Etiópia (indicada pela marca vermelha no mapa ao lado), ainda resiste apesar de todos os problemas enfrentados em 55 anos de história. É o que foi constatado por Paul Salopek, repórter do jornal americano Chicago Tribune, que esteve na famosa comunidade, considerada como a Jerusalém rasta. O antigo imperador Haile Selassie I, tido como Deus vivo por alguns rastas e como uma encarnação de Jesus Cristo por outros, cedeu a 12 pioneiros jamaicanos, em 1952, cinco mil metros quadrados de terra na cidade de Shashamane, há 250 quilômetros da capital, Addis-Abeba. Essa doação foi feita em agradecimento aos líderes negros dos Estados Unidos e do Caribe que levantaram fundos para que Selassie pudesse rearmar seu exército e retornar ao trono da Etiópia. O país havia sido tomado pelos italianos em 1941 (que já haviam perdido a batalha de Adowa para os etíopes na primeira tentativa de conquista em 1896) e foi recuperada, com a ajuda dos donativos e dos soldados ingleses, antes do final da Segunda Guerra Mundial. Mas a facção militar de inspiração soviética que tomou o poder em 1974, acusada de ter assassinado Selassie no ano seguinte, confiscou toda a terra, deixando os colonos à míngua, o que foi atenuado um ano depois, com a cessão do espaço ocupado por suas casas.


A comunidade (foto ao lado) resistiu a essa crise e também ao período de seca e fome que assolou o país nos anos 1980. Hoje conta com mais de 200 integrantes, a maioria crianças e jovens, nascidos na Etiópia. Entre os adultos a composição é eclética. Embora a maioria seja natural da Jamaica, a comunidade conta ainda com nativos de outras ilhas do Caribe, da Inglaterra e dos Estados Unidos. Alguns trabalham no comércio local, com pousadas e mercearias. Hoje as coisas estão melhores também porque a comunidade conta com o apoio de artistas jamaicanos como Rita Marley, que financiou uma escola e um posto de saúde em Shashamane. O lugar também é visitado por turistas, principalmente na festa que realizam por ocasião do aniversário de Haile Selassie I, em 23 de julho.
Desmond Martin (foto ao lado), um jamaicano que chegou em Shashamane nos anos 1970, acha que a Etiópia será sempre uma terra sagrada, mas que eles “não são considerados como parte deste lugar”. Os nativos etíopes se dividem sobre eles, acham que são pessoas bem intencionadas, mas não aprovam o uso da ganja, porque, segundo o professor Taye Kebede , “eles estão criando um mercado para a maconha, fazendo com que os fazendeiros parem de cultivar batata”. A erva sagrada dos rastas e fatores políticos estão dificultando a obtenção da cidadania etíope pelos colonos, algo que reinvindicam há cinquenta anos sem sucesso. Mas eles continuam lutando, como ratifica Earl "Chips" Sobers, um rasta de 44 anos, natural de Trinidad e Tobago, que se radicou lá em 2002: “Algumas pessoas vieram para cá esperando encontrar o Paraíso. Não é. Esse é o país do leão. Você tem que ser um leão para viver aqui”.
Fonte: Imprensa Reggae

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